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Se não fosse o cabral...

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Tuesday, May 24, 2005

Baseado em outro


Faca de pão

Dessa vez eles brigaram feio. Na briga anterior combinaram em fazer uma última tentativa; Dar uma última chance ao amor. Amor esse que só tinha três meses, com a intensidade e o desgaste de trinta anos.Os ânimos estavam exaltados. Ela havia batido nele. Dá pra acreditar? Mas ele não revidou. Não sabe como, mas não revidou. Saiu em desabalada carreira para casa. Sim, há cinco minutos estavam abraçados no sofá da casa dela assistindo na TV a monótona programação de uma noite de domingo.
Chovia forte. Ela tranqüilamente pegou um guarda-chuva e o seguiu. Chegando na casa dele o encontrou se enxugando. Ele nem sequer a olhou. Terminou de se enxugar e seguiu em silêncio para um dos quartos da casa. Fechou a porta, abriu a gaveta de um velho criado-mudo retirando de dentro um pequeno embrulho de papel. Maconha. Sim, ele cultivava o nobre hábito de fumar maconha.
Esse era o principal motivo da briga. Pegou em uma estante de ferro à sua frente, uma velha lata de achocolatado, e sacou de dentro um punhado de papel para enrolar cigarros e um isqueiro, devolvendo assim a lata para estante onde também se encontrava um cinzeiro de barro. Sentou relaxadamente em uma velha cadeira de praia, sorriu levemente, abriu o pequeno embrulho derramando a erva na palma da mão.
-Um mato...
Disse sorrindo ironicamente.
Enrolou um grande cigarro usando toda a erva e pois a fumá-lo.

Enquanto isso ela tomava banho furiosa. Achava que ele não teria coragem de fazer isso. Não com ela em casa. Ela havia pedido para nunca fumar na presença dela. Pois odiava vê-lo com "Aquela cara".
Quando ela saiu do banheiro logo sentiu o cheiro. Ficou furiosa; Como nunca havia ficado em toda sua vida. Sentou-se à mesa da cozinha, abaixou a cabeça apoiando-a sobre os braços e chorou feito uma criança perdida.
No quarto, ele pôs para tocar um cd que havia copiado de um amigo do trabalho. Os dois tinham gostos musicais muito distintos. Ela odiava as músicas que ele ouvia e ele idem.
Ela encarou como provocação. Sua boca, ficou mais seca que a dele. Sentiu o ódio percorrer sua carne trêmula antes de se alojar no seu estômago.
Pensou em beber algo. Abriu a geladeira dando de frente com uma lata de aguardente que estava meia.
Apossou-se da lata tomando-a em três doses bem rápidas. Logo sentiu uma leve coceira dentro da cabeça. Quase no cérebro. Sorriu.
Atentou para uma faca que descansava sobre a mesa. Aquelas facas serrilhadas e pontudas usadas geralmente para cortar pão.
Ela não resistiu a tentação, pegou a faca e ficou a observá-la. Constantemente passava os dedos sobre a lâmina e tocava o dedo indicador na ponta.
Já haviam passado trinta minutos quando ele saiu do quarto. Passou pela cozinha e se deparou com ela sentada à mesa ao lado de uma lata de aguardente vazia, pois estava virada, com uma faca em suas mãos.
Diante da cena, pois- se a rir descontroladamente.
Ela então avançou contra ele chorando, o abraçou e transferiu-lhe um único golpe abaixo da axila esquerda. A faca quebrou logo após penetrar o seu pulmão, que não era lá essas coisas...
Ele caiu lentamente olhando-a nos olhos enquanto o sangue escorria-lhe pela boca, levando sua vida.
Ela o olhou, como se ele merecesse a dor que sentia, e foi para casa.
A polícia diante da cena de morte e "drogas", não pôde declarar nada além do esperado:
"Dívida com traficantes."
Uma semana depois, ela se apresentou na delegacia mais próxima assumindo a autoria do crime e respondeu ao processo em liberdade.
No julgamento, a defesa alegou que ela estava sob efeito de drogas perturbadoras; álcool e maconha. Ela foi condenada a cumprir cinco anos em regime fechado. Após dois anos no presídio conheceu o irmão de uma colega de cela, por quem se apaixonou.
Casou-se logo quando se tornou livre. Hoje, é uma feliz mãe de dois filhos, um casal cuja existência não lhe permite esquecer o seu ato de desespero.
O rapaz, mais velho, tem o nome de seu finado namorado e a moça chama-se Maria Joana.

Eu amo finais felizes.
Posted by Hello

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